sábado, 31 de janeiro de 2009

Para mais tarde recordar...


A nossa professora foi ontem distinguida com a atribuição do 1º prémio do concurso "II Engenho e Arte" extensivo a dez concelhos, promovido e igualmente patrocinado pelo Grupo Lena e câmaras dos concelhos envolvidos, cujo tema visava realçar aspectos do desenvolvimento daqueles municípios.

Estamos todos de parabéns, permitam que me expresse assim, porque também nós nos queremos sentir honrados pelo reconhecimento do talento artístico da mestra.

Naturalmente que endereçamos as nossas mais calorosas e sinceras felicitações à nossa querida professora D.Dulce Bernardes, desejando-lhe que continue a exibir por muitos e bons anos a veia artística que lhe é justamente reconhecida.

Muitos parabéns Professora.

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Malangatana 3




Em 4 de Abril de 2007, tive o prazer de conhecer pessoalmente Malangatana, na praia do Tofo (Inhambane - Moçambique).

Malangatana 2





Aquando da Expo 98, tive a oportunidade de fotografar a porta e paredes do pavilhão de Moçambique, decoradas com pinturas de Malangatana, conforme podem apreciar.

Malangatana


Malangatana Valente Ngwenya nasceu em Matalana, Marracuene, Moçambique, a 6 de Junho de 1936. Frequentou a Escola Primária em Matalana e posteriormente, em Lourenço Marques (actual Maputo), os primeiros anos da Escola Comercial.
Foi pastor de gado, aprendiz de nyamussoro (médico tradicional), criado de meninos, apanhador de bolas e criado no clube da elite colonial de Lourenço Marques. Tornou-se artista profissional em 1960, graças ao apoio do arquitecto português Miranda Guedes (Pancho) que lhe cedeu a garagem para atelier e que lhe adquiria dois quadros por mês, por um valor superior ao salário que um criado negro como ele poderia auferir.
Desde 1959 que participa em exposições colectivas por várias partes do mundo, para além de Moçambique, nomeadamente África do Sul, Angola, Brasil, Bulgária, Checoslováquia, Cuba, Dinamarca, Espanha, Estados Unidos, Finlândia, França, Grã-Bretanha, Holanda, Índia, Islândia, Itália, Nigéria, Noruega, Paquistão, Portugal, RDA, Rodésia, Suécia, URSS e Zimbabwe.
A partir de 1961 realizou exposições individuais por várias partes do mundo, para além de Moçambique, nomeadamente Alemanha, Áustria, Bulgária, Chile, Cuba, Estados Unidos, Espanha, Índia, Macau, Portugal e Turquia.
Para além de duas esculturas em ferro instaladas ao ar livre e de murais pintados ou gravados em cimento em Maputo e na cidade da Beira, em Moçambique; na África do Sul; no Chile; na Colômbia; nos Estados Unidos; ma Grâ-Bretanha; na Suazilândia e na Suécia,a sua obra (Pintura, Desenho, Aguarela, Gravura, Cerâmica, Tapeçaria, Escultura) - exceptuando , a vastíssima colecção do próprio artista - encontra-se em vários museus e galerias públicas, bem como em colecções privadas, espalhadas por inúmeras partes do mundo.

Malangatana - uma biografia (in Malangatana, Editorial Caminho)

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

O que é para mim ser artista

O meu conceito de artista fundamenta-se na simplicidade dos actos ou motivações, que produzem no individuo a necessidade de exteriorizar algo que lhe vai na alma, ajuizando bem, sem a influência dos "entendidos", vendo, observando e apreciando sob intervenção apenas dos nossos sentidos, até encontrar na nossa análise, livre de preconceitos, a justa qualificação das obras que observamos.

Há, nomeadamente no campo das artes e, mais precisamente, no domínio da pintura, trabalhos que não correspondem minimamente à nossa sensibilidade do que é arte.

Não estarei só, ao pensar deste modo, na presença de trabalhos, que mais parecem um despejar de pinceladas, eventualmente tentando produzir um conjunto colorido agradável à vista. Que me desculpem os seus autores, mas na minha perspectiva não merecerão nunca o atributo de artista.

Já é possível fazer coisas admiráveis hoje em dia, mas ainda não é possível construir edifícios começando pelo telhado. Quero com isto dizer, que há que demonstrar primeiramente algum talento, produzir com qualidade, engenho e arte, obras que sensibilizem o mais comum dos mortais, evidenciando perfeição, cativando espanto e admiração, para não se cair na vulgaridade, em que só se observa cor e pinceladas.

É preciso trabalhar muito, ser paciente e observar com rigor quando se produz, por forma a melhorar continuamente, visando o perfeiçoamento até que nos apreciem essas características. Aí sim, correr-se-á o risco de ser considerado artista.

Gostaria de poder pensar pertencer um dia ao grupo daqueles que têm efectivamente este dom de artista.

Por enquanto, resta-me ir treinando, sem essa miragem no horizonte...

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Pintura e Literatura

Depois de ter lido a belíssima crónica de José Saramago que transcrevo abaixo, não resisti a demandar, na internet, a aguarela de Albrecht Durer tão minuciosamente descrita naquela.
Experimentem ler o texto e simultaneamente lançar os olhos sobre a aguarela…

Com os olhos no chão
O céu é todo feito de rosa e amarelo em partes iguais. O pintor esqueceu as fáceis memórias do azul e amontoou ao fundo umas névoas espessas que filtram a luz sem direcção nem sombras que rodeia as coisas e torna visível o outro lado delas, como se tudo fosse simultaneamente opaco e transparente. Depois baixou a cabeça e mergulhou o rosto na terra até que os olhos, as pálpebras inferiores, os cílios arqueados e trémulos, ficassem rentes à superfície de um chão feito de pasta vegetal, limosa, e ao mesmo tempo vítrea, como um tufo transportado através de todos os ardores e frios da volta maior do mundo, como um escalpe arrancado inteiro.

E agora que se reflecte na água única que cobre os olhos, polidos e macios como esferas velhas de marfim, a teia vegetal que é a única vida aquém da cor amarosa do espaço, o pintor vai minuciosamente defender da morte, do vento rápido, da inundação que derruba, os caules finíssimos, as folhas rasteiras e gordas, as cápsulas cartilaginosas, as palmas minúsculas das gramíneas. Todas estas ervas hão-de ter nome nas classificações botânicas, todas hão-de ter cem apelativos diferentes consoante os lugares onde nasçam e os homens que os habitem. Aqui, porém, o tempo não começou, os homens são mudos, os nomes não existem, a linguagem está por inventar. Só a mão encaminha no papel o gesto entendedor do mundo.

Um pouco para a direita, algumas folhas largas, envolventes, curvadas como pás, encerram na escuridão interior não se sabe que criança perturbadora, enquanto outra folha igual, já despegada, como se tivesse sido mordida à flor do chão, descai para trás. Mas as que estão de pé condensam uma energia insolente, uma ameaça de devoramento daquela que revira para o céu baço e morno uma face em que as nervuras já se decompõem. Entretanto, uma erva cilíndrica levanta-se como bainha de onde nasce uma folha única, delgada em espada, enquanto outra folha gémea se lança para fora e para cima, ap+ontando para fustes delgadíssimos, sustentadores de cavhos leves que talvez venham a ser aveia em tempos futuros, ou já o são, sem nome ainda.

Para a esquerda, balouçam (balouçariam) sobre caules secos uma espécie de pagodes com frestas a toda a volta, uma eflorescência cor de laranja, e também uns filamentos pilosos como barbas, tudo supondo ou sugerindo promessas de destilações secretas para os grandes sonhos dos futuros homens assustados.

Pairando abaixo, sem parecer ligar-se a nenhum apoio, há um chuveiro de pequeninos pontos amarelos, que são flores, mas de que nada mais se vê que a palpitação microscópica. Poderiam ser insectos, mas esses foram excluídos daqui para que nada se sobrepusesse à serenidade, à lentidão das seivas, à permanência das fibras. Logo ao lado, nascendo directamente da terra, folhas que parecem esfarrapadas são como árvores que povoarão os bosques das fadas e dos duendes, quando os homens precisarem de animar de desejos e medos a impassibilidade vegetal.

Os olhos do pintor rasam agora a superfície do chão, o musgo que é luva sobre a terra húmida, cobrindo as flatulências da água que vagamente ressumbra sob o peso da vegetação. Não há mais que ver entre o musgo e o céu, ou tudo está por ver ainda porque as ervas estremeceram todas, fez-se e desfez-se dez vezes a rede cruzada dos caules, oscilaram as folhas. Tudo estaria novamente por contar, e é impossível o relato. Guarda-se pois a imagem primeira enquanto o rosto do pintor se afunda mais, e os olhos descem ao chão vítreo, onde as raízes rompem caminho como pequenas mãos multiplicadas em dedos longuíssimos, donde nascem outros dedos mais finos, ventosas minúsculas que sugam o leite preto da terra. Os olhos do pintor descem mais ainda, estão já longe do corpo e vogam no meio da fermentação esponjosa da turfa, entre bolhas de gás, olhos ímpares que lentamente incham e depois rebentam de lágrimas.

A mão do pintor passa sobre o papel, dispondo a tinta em manchas que parecem abandonos, avança com a fixidez de movimento de um astro em órbita ao longo da necessidade de uma haste de erva, volta a cobrir de mais névoas o céu ainda liso de sol e de nuvens. Entretanto, os olhos cerram-se cansados, a mão suspende o último gesto, e depois, enquanto as pálpebras voltam a abrir-se, o pincel desce devagar e depões no lugar predestinado uma levíssima camada de tinta, quase invisível, mas sem a qual todo o trabalho teria sido falso e inútil.

Não há nada mais vivo do que esta aguarela de Albrecht Durer, aqui descrita por palavras mortas. Com os olhos no chão.

(in A Bagagem do Viajante, Editorial Caminho)

sábado, 3 de janeiro de 2009

É Mentira!!!

Pelo que me é dado perceber, “a malta” tem andado toda na “balda”. Pinturas… nem vê-las! Lembrem-se que a exposição é já para Maio/Junho… quem vos avisa…

A professora é que é uma santa, não marca trabalhos para casa...

Até parece que já os ouço dizer “olha o gajo a dar graxa!" É Mentira!!!

Resposta ao meu amigo RP

O meu amigo RP , no seu jeito brincalhão, resolveu "entrar" comigo, porque eu o estava a "brindar" com um apreciável número de "mails".
A "piada" foi " só mails, só mails, hoje não se pinta?" aproveitando ainda para confirmar o reinício das actividades ( segunda ou quinta ?).
Por acaso, "deu-me na veneta" de gracejar também e saíu-me esta versalhada, na qual quis também incluir o n/grupo de trabalho e o n/blog.
Acabei por achar piada e, por isso, ela aqui vai:



Só gasto nisso um bocado,
Não é só mails, não é !
Nem sou eu que os invento ...
Com o teclado ao pé
E o rato ao meu lado
Faço disso passatempo.
Dá-se conta do recado...
Uns minutos ... já se vê !...


Nesta altura, é natural,
Que, sem talento ou jeito,
Nem veja pincéis nem tintas,
E pinturas ... nada feito.
Só pensamos no Natal !.
Mas vão acabar-se estas fintas,
E vai voltar ao normal:
Das segundas para as Quintas.


Portanto, no mesmo dia,
Já é hábito afinal,
Vamos descer as escadas
E cumprir o ritual.
Pintemos com alegria,
Muita "COREPINCELADAS",
Que é uma rica companhia
E um grupo bestial.

Arnaldo Barateiro
2009.01.02

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009


O meu Presépio

Um ano mais e a tradição foi cumprida.
Desde a ritual procura do melhor musgo, a preparação do sítio em casa, o desembrulhar das figuras, tudo com um sentido de extraordinária subordinação a uma cultura, enraizada desde a nossa infância, que nos leva a construir com grande alegria o maravilhoso cenário do presépio.
As crianças esperam ansiosas por esse dia e, porque não confessá-lo, até nós, que o construímos, nos sentimos contagiados.
Não tenho ideia de alguma vez ter deixado de construir o meu presépio.
É sempre um sentimento de uma alegria diferente que me leva a idealizar, ano atrás de ano, uma nova forma de dispor as figuras mais representativas da quadra que tão vivamente celebramos.
Muitos, mesmo muitos, são os lares em que as famílias cumprem este costume cristão, a que os membros mais novos de bom grado se associam.
É também mais uma óptima oportunidade de cultivar o verdadeiro “sentido de família “, hoje em dia tão subvalorizado.
Aproveitemos então, esta quadra natalícia, para aproximar e enraizar, nos mais pequenos, sentimentos nobres, que são o amor, o respeito e a fraternidade, indissociáveis de uma família, na verdadeira acepção da palavra. Não será necessária retórica, mostremos-lhes muito simplesmente como nós, os mais velhos, partilhamos e vivemos em harmonia .

Arnaldo Barateiro